terça-feira, 30 de outubro de 2012

Breve retrospectiva imagística de 2012.

A foto clássica: o cordelista e repentista José Maria de Fortaleza, Leila Quaresma (Diretora do CCB-STP), Sr. Gonçalo Ferreira (Presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel), eu (leitora), Tião Simpatia (cordelista e repentista).


 Os repentistas cantando no Instituto Superior Politécnico de São Tomé e Príncipe (ISP-STP)



Os nossos três convidados do mês de março no anfiteatro do ISP-STP.


Professor Amarino Queiroz (UFRN), Professora Ana Lúcia Souza (UFBA) e a poeta são-tomense Conceição Lima na Rádio Jubilar, em maio.


Eu e o Professor e Amigo Amarino, na Rádio Jubilar.


Reunião das alunas Arlete, Lisinaite e Eteldilaide, que se inscreveram no processo do PEC-PG, com Amarino e Analu, na sala do Leitorado Brasileiro.



Palestra da Professora Ana Lúcia Souza (UFBA), no ISP-STP. Contamos com a presença do Sr. João Pontífice, atual vice-presidente do ISP, e do Exmo. Embaixador do Brasil em São Tomé José Carlos de Araújo Leitão.

Professora Ana Lúcia no ISP.

Encontro em sala de aula, no ISP,  com meus convidados Analu e Amarino!


Lançamento da Edição especial do livro O útero da casa, da poeta Conceição Lima, que contou com minha apresentação e meu posfácio, a convite da poeta. Em junho.

Palestra do Professor Eduardo de Assis Duarte (UFMG) no ISP-STP, no âmbito das comemorações dos 100 anos de Jorge Amado. Contei com a presença do Exmo. Sr. Embaixador do Brasil em São Tomé José Carlos de Araújo Leitão. Setembro.

O Professor Eduardo de Assis Duarte, especialista na obra de Jorge Amado.

sábado, 27 de outubro de 2012

Rádio Jubilar: Literatura, Literatura nos PALOP, Literatura São-tomense - Perspectivas

Estivemos hoje, eu e o nosso Primeiro Secretário Maurício do Carmo, em uma deliciosa conversa com o Gil Vaz na Rádio Jubilar, no programa Estação Brasil - que vai ao ar todos os sábados, às 15h, na 91.9 FM.

Falamos da importância do estudo da literatura, do Brasil e da questão da superação da antiga cobrança de se ter ou se forçar - como já foi dito por aí - uma "literatura brasileira"; falamos dos escritores proeminentes dos PALOP, e falamos de São Tomé e Príncipe.

Parece-me consensual o fato de que é preciso olhar com mais carinho e critério para a literatura daqui. Estudá-la com rigor. Comprometer-se com ela de perto, no campo de batalha. Exigir das autoridades que são responsáveis pela educação a criação de uma livraria, já que supermercado, hoje, há por aqui. É o progresso, o progresso sem livros.

É preciso fazer com que os são-tomenses acreditem em si mesmos, acreditem que a literatura que eles têm é o seu tesouro, é a representação de sua pátria, é a escrita, em alguma medida, de sua história.

Mas eu lanço a minha eterna dúvida: qual a dificuldade de se fazer uma livraria em São Tomé? Um país de Caetano, de Marcelo, de Tomás, de Albertino, de Aíto, de Alda, de Maria Manuela, de Frederico, de Conceição... Como algumas almas irresponsáveis ousam dizer que "aqui não há literatura digna de se estudar ou de figurar nos manuais escolares"???

Ouso sugerir: abrir-se uma banca com livros, a que se possa chamar, decentemente, de livraria, não custa caro. Custoso é saber que a mentalidade de uma nação se constrói em conformidade com a desgovernança (doces, sorvetes, cervejas, inutilidades várias...). Ler é muito perigoso, talvez Rosa o dissesse.
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A entrevista correu bem, e seguem as famosas fotinhas de Gil e Dulce, os atores do Estação Brasil do dia 27 de outubro de 2012.




Além da maravilhosa presença do Gil Vaz, que é um grande jornalista, apareceram por lá os poetas Marcelo da Veiga, Francisco José Tenreiro e Caetano da Costa Alegre, para quem eu passo a voz agora, nos próximos versos:

"Irmãos: não dêem razão aos que nos mordem!
Independência não é nada disso...
Não é essa desordem
Que transforma em inferno um cortiço.

Independência não é
Vadiar, viver sem respeito,
Por tudo bater com o pé
E inchar, qual balão, o peito.

Independência é uma coisa bela
E santa, mas é preciso compreendê-la!
Não é para o qual-qual a independência!
Como a bonita mulher
Quem a ama e pretende e quer,
Há de ter consciência
De não seu um joão-ninguém qualquer;

De com a força dos seus braços
Sempre bonita trazê-la;
Adivinhar-lhe os pensamentos;
Ampará-la nos nossos passos
Contra a ira de todos os ventos
De cobiças defendê-la." (Independência, Marcelo da Veiga)

"Nasci naquela terra distante
num dia de batuque.

Daí esta pressa de viver!

Ombros balançando
lábios sangrando de prazer
eles dançavam
dançavam...

Daí este olhar pró sofrer!

Depois o descanso.
Olhos longe sem se saber porquê

Assim esta vontade de viver!" (In. Ilha de nome santo, Francisco José Tenreiro, 1942)

"Teu riso, teu olhar - ardente paraíso -
Com teu formoso leque escusas de ocultar,
Que ainda assim me abrasa o fogo desse riso,
Que ainda assim me queima a chama desse olhar." (No leque duma andaluza, Caetano da Costa Alegre)

domingo, 21 de outubro de 2012

Finalmente, Caetano da Costa Alegre

Lançamento do livro Versos

"O Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe tem o prazer de informar que no dia 09 de novembro, às 18h, lançará nova edição de Versos, livro referencial para o estudo da literatura e cultura são-tomenses, cuja publicação foi possível graças ao patrocínio do Governo Brasileiro, por intermédio de proposta da Embaixada do Brasil para o seu programa cultural de 2012.

Caetano da Costa Alegre, poeta nascido em São Tomé em 1864 e falecido em Portugal em 1890, é autor de poemas cujo estudo lança luzes para o entendimento do sentimento identitário de São Tomé e Príncipe. Trata-se do primeiro escritor que levou ao sistema literário ocidental a percepção de mundo construída nos seus primeiros dezenove anos de existência, vividos nestas ilhas, em choque com sua ambientação em Portugal, onde faleceu precocemente sete anos após sua chegada."
(CCB-STP)

O livro conta ainda com o prefácio escrito pelo amigo do poeta Cruz Magalhães em 1890, o primeiro a publicar os Versos, em 1916. Conta também com um estudo crítico assinado pelo Leitorado Brasileiro. Todo o trabalho teve a colaboração do Cultural da Embaixada do Brasil em São Tomé e da artista plástica brasileira Nati Borba, que idealizou a capa da edição. Além de uma nota carinhosamente escrita pela poeta Conceição Lima.

Aos residentes neste país, o convite está lançado. Aos de fora, fica a informação de que muito em breve Caetano da Costa Alegre voltará a ter lugar nas bibliotecas das escolas e nas bibliotecas públicas do país. E, assim esperamos, voltará a ter o seu lugar de direito no contexto da literatura de São Tomé e Príncipe.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Um pouco de lirismo numa história de realidades.


É inevitável que esta minha voz, às vezes, se sinta um pouco rouca, cansada. Por aqui, o clima equatorial deixa as coisas bem mais “devagares” do que o natural corre-corre da vida na cidade grande, e a tecnologia nem sempre está a nosso favor. A chuva, que deu o ar de sua graça, inunda minha vida, minha rua e meu prédio. Cada dia que passa é um deus-nos-acuda o sair-de-casa. Afinal, choverá hoje? A chuva também interfere nos serviços de comunicação... Nada mais normal!
Todos os dias, é como se tivéssemos de quebrar, com uma marretinha, um muro imenso de dificuldades para dormirmos, ao final da tarde – anoitece antes das 18h, lembremo-nos disso! –, com a sensação, ainda longínqua, de que quase-tudo dos afazeres diários foram cumpridos. Nós, os seres de vida normal, suamos o dia inteiro, literal e metaforicamente.
No entanto, no último dia 15 de outubro, eu tive a nítida sensação de que, mais do que quebrar muros, moveram-se montanhas aqui pelas ilhas. Trata-se do caso das meninas Lisinaite Boa Morte de Carvalho Vaz, Arlete Encarnação de Almeida e Eteldilaide Manuel Ferreira. Serei muito breve, pois espero ser lida, espero apresentar-lhes essas são-tomenses queridas minhas, e sei que, em meio ao cansaço diário, muitos não conseguem ler sequer uma matéria de jornal simples (só serei breve por isso, pois esse trio mereceria mais dedicação...).
Voilà! Sabe-se que o Brasil oferece, todos os anos, para estudantes estrangeiros, uma bolsa de estudos – o PEC, Programa de Estudante Convênio – e que num país como São Tomé e Príncipe quem se beneficia de tais programas são, em geral,  alunos de instituições privadas que vão para o Brasil fazer a graduação (PEC-G) ou alunos que já fizeram o G e vão tentar o PG, pois já deixaram a vida “mais ou menos acertada” no período dos quatro anos da faculdade. Vale lembrar que os alunos que já estudaram no Brasil são membros até mesmo de uma Associação – fazem eventos ligados à cultura brasileira em conjunto com o Centro Cultural Brasil – São Tomé e Príncipe, e , creio eu, trata-se de uma Associação aberta a qualquer ex-aluno que foi beneficiado por nossas bolsas (boa dica para quem ainda não sabia da Associação é procurá-la e começar a trabalhar também!).
Penso que hajam algumas razões óbvias para que as coisas ocorram assim, ainda um tanto quanto elitizadas, quais sejam: acesso aos meios de comunicação com mais facilidade, acesso a escolas privadas – que, como no Brasil, são aquelas que mais “aprovam” em exames como o vestibular, por exemplo –, acesso à informação, facilidades financeiras e, finalmente, apoio humano para a saída daqui.
O que aconteceu no último dia 15 de outubro – feriado para nós, professores brasileiros! –, último dia de inscrição no PEC-PG, foi que, depois de muita luta, de baterem de porta em porta exigindo direitos básicos e pedindo apoio (declaração de vínculo empregatício – coisa complicada! –, declaração de uma instituição pública de ensino de conclusão de curso de graduação e histórico escolar – outra complicação não menos entediante –, acesso à internet e contato com uma IES brasileira, preenchimento do Currículo Lattes em uma conexão à internet mais complicada ainda, cartas de recomendação – obrigada às professoras Bia Afonso e Joana Castaño – às 5h30 da manhã –  por darem uma mãozona!), o trio Lisinaite, Arlete e Eteldilaide, meninas de vida dura e humilde de São Tomé e Príncipe, arrimos de suas famílias, uma mãe, outra, filha sem mãe, e mais outra determinada e perseverante, recém-saídas de um Instituto Superior Politécnico – cujo currículo anda muito longe de suas realidades socioculturais e econômicas –, sem sobrenome imponente de duque, dom, nobrezas quaisquer, o trio passou o dia na Embaixada do Brasil em São Tomé, e, pelo intermédio longínquo e generoso do Professor Wagner Rodrigues Silva, da Universidade do Tocantins – a quem agradeço com maiúsculas e negrito –, finalmente, submeteu a sua inscrição ao PEC-PG.
São as primeiras alunas do Instituto Superior Politécnico, do Departamento de Língua Portuguesa, licenciadas, que conseguem, ao menos, inscreverem-se no processo. Estimuladas e encantadas pela literatura são-tomense, sob a égide e a magia de Caetano da Costa Alegre, Francisco José Tenreiro, Marcelo da Veiga e Alda do Espírito Santo, essas meninas partem para uma viagem cheia de esperança pelo processo de aceitação ao Programa. Depois, se forem aceitas, partem para uma viagem efetiva, concretíssima, com o objetivo de trazerem de volta para a terra mãe a literatura que as fez crescer e sonhar com caminhos mais amplos.

É nisso que eu acredito, firmemente: são os “filhos da terra” – e essa expressão se lê em textos como os de Aíto Bonfim, como uma mão batendo forte no peito – são, pois,  os “filhos da terra” que, sem medo de voltarem para casa, sem medo das dificuldades que vão enfrentar lá e aqui, são eles que vão escrever a verdadeira e concreta história de São Tomé e Príncipe, buscando para isso subsídios no além mar, com os pés no chão da ilha e a cabeça expandindo em direção à sua verdadeira nação.
Eu acredito nessas meninas que não querem apenas o status vazio de doutoras (não é só de títulos que se faz um intelectual sério), nem privilégios sociais: elas querem as suas vidas mais justas, elas querem ser críticas de sua literatura, críticas de sua história política, social e cultural. Elas querem tomar posse dos que lhes pertence. Elas movem montanhas também para voltar.
De cabeça erguida, eis que estamos aqui esperando o resultado desse sonho. E eu, propagadora da notícia, estou esperando ver os meus alunos e amigos são-tomenses se apropriando efetivamente do que lhes pertence por justiça e trabalho e mudando o curso da história de seu país. E relembro: aqui, com os pés fincados na ilha como “tábuas rijas”.

Alea jacta est, meninas. Mesmo que não seja dessa vez, um grande obstáculo foi removido da frente de outras lisinaites, arletes, eteldilaides que ainda virão por aí. Eu ainda verei os seus nomes figurando nos livros de literatura, nos manuais das escolas, quando eu estiver no Brasil estudando a sua literatura. Disso, não me restam dúvidas!

 Naduska Palmeira, leitora em São Tomé.