segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Silêncio, por favor...

Há imagens que dizem mais que qualquer texto que tente ser eloquente. Essas imagens fizeram triste o meu dia:

Doado pela cooperação francesa. "Bus" em desuso.

Não sei se foi doação. Em desuso.

domingo, 11 de novembro de 2012

Sorriso de Conceição.

No dia 08 de novembro, no Café Avenida, cidade de São Tomé, dei um abraço forte na minha amiga São Lima.

Noticiar um abraço é vital para os dias de hoje, em que apenas se noticiam tragédias, anunciadas ou não, e os jornais só dão desgosto... ou acendem o gosto pelo supérfluo como forma de evasão...

O nosso abraço seguiu-se de um conversa muito rápida, pois a poetisa partiria para o Brasil no dia seguinte, e estava feliz. Ora, São Lima estava feliz, com um sorriso aberto, com seu olhar inconfundível e perscrutador, atento a cada movimento que se seguia no Café. E atenta, ela, à nossa conversa que demorou em média 10 minutos, junto à entrega de uns "Versos" para que eles voassem para o Brasil (mais precisamente, pro Ceará).

Depois do abraço final, de boa viagem, que tudo corra bem por lá, que aqui as coisas fiquem bem também, voltei para casa com a imagem da São na minha cabeça: São sorria, um pouco eufórica, talvez, e sorria grande, sorria de um sorriso que lhe iluminava a cara. Como podem 10 minutos valerem horas de felicidade, horas de deleite? Em meio às dificuldades de São Tomé - por que ambas passamos, cada uma a seu jeito - 10 minutos valem até hoje pra mim, ressoam, ecoam em alegria, por saber que São está no Ceará, revendo amigos antigos, conhecendo pessoas novas, dando a conhecer seus poemas, falando de si, falando de sua terra.

Ousei escrever esse pequeno texto sobre o sorriso da São para transformar a minha sensação, abstraída na volta pra casa naquele dia 8 de novembro, em palavras concretíssimas que embora não expressem um centésimo do que eu carrego comigo, de alguma maneira deixam firmadas as minhas impressões daquele encontro sorridente. Scripta manent.

Voilà!

Para a São Além-Oceano, de mim, que aqui fiquei lembrando-me do seu sorriso.

Vamos comer Caetano?



Senhoras e senhores, boa noite.

            É com muita satisfação que a Embaixada do Brasil, o Centro Cultural Brasil – São Tomé e Príncipe e o Leitorado Brasileiro – por ter trabalhado na edição –, que hoje é representado por mim, estão aqui hoje para acender novas luzes sobre o poeta são-tomense Caetano da Costa Alegre, fazendo uma revisão do séc. XIX para o lermos hoje no séc. XXI, com a atemporalidade digna de um artista.
            Não me estenderei em análises de sua obra, pois a professora do Instituto Supeior Politécnico Sónia Almeida, nossa convidada, o fará com pormenores. Apenas gostaria de ressaltar aqui a importância do lançamento e da disponibilização de uma obra que é fundamental para a literatura deste país, e que se quedava muda desde 1994, quando de sua última edição pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda, de Lisboa.
            Há muito ouço, pelas minhas andanças em salas de aula no Instituto Superior Politécnico e através dos famosos boatos são-tomenses, consagrados pela poesia de Alda do Espírito Santo, no seu “sagrado solo”, que neste país não existe uma literatura digna de menção detalhada em livros didáticos do ensino básico ou liceático, e até mesmo que há pouca literatura para ser estudada em sala de aula por alunos do ensino superior da área das Letras, justificando, dessa forma, menos espaço para a análise dela nas grades curriculares.
            Presumo que tenha me deparado aqui com um erro – ou com uma possível falta de informação: desde que cheguei a São Tomé e Príncipe, em setembro de 2009, venho pesquisando a sua literatura, não apenas por ser essa a minha área de atuação, meu trabalho e minha verdadeira paixão, mas também porque senti a necessidade de desmentir tais boatos e de mostrar, pelo menos aos meus alunos, entre as quatro amplas paredes de uma sala de aula num instituto superior que existe, sim, uma literatura e o estudo dela os fará ser os cidadãos críticos da sociedade são-tomense futura.
            Talvez seja hora de olhar para dentro de si e se perguntar: quem verdadeiramente sou? Quem eu quero ser?
            Acredito na literatura, sem romantismos ou ideologias utópicas de minha parte, como uma eficaz fonte de tomada de consciência histórica, nacional e linguística. Não venho aqui dizer que a literatura pode salvar a humanidade, mas ela pode salvar um indivíduo: ela abre as mentes, ela incomoda, põe-nos a pensar, a questionar paradigmas, dogmas sociais e políticos, ela nos faz pensar de forma independente, ela cresce em nós à medida que é desvelada. E ela cresce nas ruas e nos discursos à medida que é estudada e trazida à luz.
            No Brasil, desde a década de 1920, vimos construindo uma pátria literária: sobrepujamos a necessidade obsessiva da auto-afirmação, já não questionamos, a um molde negativista, nossa identidade plural, mestiça, já não alimentamos fantasias colonialistas ou rancores xenofóbicos. Para tanto, precisamos, antes, valorizar o povo que fomos e construímos, precisamos levar para as elites políticas e sociais a língua do mestiço, a língua brasileira, falada nas ruas, cantada nas nossas músicas; língua nova, revelada pelos artistas do Modernismo. Com esta língua nos reconciliamos com a nossa origem, com as nuances de nossas cores, com nossos vários sotaques, enfim, com o que hoje podemos chamar Pátria.
            São Tomé e Príncipe, apesar da distância geográfica em relação ao Brasil, teve um percurso um tanto quanto parecido com o nosso: história de colonizadores e heróis, história de mitificação da história, de luta e revolução com palavras, de frontalidade com a realidade. É claro que não posso comparar a história de uma nação de quase duzentos anos com a de outra de 37 anos. No entanto, sinto que a passos largos, os são-tomenses, ainda que muitas vezes de maneira inconsciente, têm buscado conhecer-se, situar-se no mundo atual. Se não conhecer-se, ao menos encontrar-se.
            Talvez a literatura possa apontar o caminho dessa busca, mas é preciso voltar ao séc. XIX e esclarecer o posicionamento ideológico e cultural de seus artistas, obscurecidos pela política colonial à época, e mais tarde, oprimidos por um regime que coibia a liberdade de expressão. É uma história de traumas, mas não menos de lutas e resistência.
            Caetano da Costa Alegre, tantas vezes obliterado no seu solo pátrio por Francisco José Tenreiro (que seja a ele dado o lugar devido, claro) viveu em São Tomé e Príncipe, mais precisamente na ilha de São Tomé. Viveu aqui 19 anos e foi estudar na Metrópole, nos finais do século retrasado. Defrontou-se e confrontou-se com uma sociedade branca, racista, de mentalidade opressora. Sentiu, no entanto, a poesia correr em suas veias e encontrou nela uma via de liberdade de expressão. Foi um homem negro que trabalhou com as palavras a antítese frisante de que nós todos, seres humanos, ora somos compostos. Não rejeitou a sua cor ou a sua nacionalidade; exaltou a beleza da mulher negra, sentiu as tristezas próprias de um jovem rejeitado pelas mulheres da metrópole, enveredou-se pelo naturalismo – influenciado, talvez, pela sua relação com a medicina – desvelou o homem, idealizou o amor romântico, tratou das questões da cores negra e branca como material artístico.
            Acredito em processo literário, assim, acredito que, muito mais que “fundar” uma literatura são-tomense, Caetano da Costa Alegre fez parte deste processo de tentativa de inclusão sua e dos demais leitores de seus Versos, mais tarde, numa sociedade outrora desigual e opressora. Hoje, no entanto, podemos chamar os Versos de obra fulcral para compreensão do sentimento de um homem negro numa sociedade racista. E para, em processo de maturação, compreendermos os homens todos, vivendo juntos, homens mestiços na pele e no pensamento, inventando um modo novo de ser e estar no mundo, com apenas 37 anos de idade.
            Assim, volto ao ponto inicial, pois, como já disse antes, caberá à professora Sónia Almeida falar mais sobre o poeta da noite: Caetano da Costa Alegre, como muitos outros que vieram depois dele e viveram verdadeiramente São Tomé e Príncipe, são dignos de figurarem em nossas salas de aula, em nossas conversas diárias, em nosso imaginário mítico, ético, político e social. Basta que se acredite nesta nação em processo. Olhar para dentro de nós mesmos, investigar os cantos de nossa nacionalidade, colocar de lado o nacionalismo indeciso e incerto: a arte literária proporciona a organização e a maturação de tais pensamentos, incomodando-nos à exaustão, como que gritando: “existimos”.
            Nesta noite eu convido a todos que aqui estão a conhecer Caetano da Costa Alegre, o poeta que da Europa mostrou que São Tomé e Príncipe existe, que possui suas idiossincrasias como todo país, e que, hoje, é uma nação em processo de reconstrução identitária e em franco processo de valorização de si mesma.
Muito obrigada.

Naduska Palmeira

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Em dia de "Versos"


A Embaixada brasileira em São Tomé lançará, em 9 de novembro próximo, edição de Versos, do poeta santomense Caetano da Costa Alegre.
Fruto da cooperação cultural brasileira, o lançamento visa ao preenchimento de duas lacunas: a primeira, mais objetiva, a ausência de edição lançada em solo santomense; a outra, a divulgação aos estudantes e amantes da cultura de São Tomé e Príncipe dessa obra fulcral, produzida pelo primeiro escritor da terra cuja lembrança resiste à passagem do tempo. Nesse sentido, a Embaixada brasileira destinará livros a liceus, institutos superiores de ensino e instituições ligadas à educação e cultura.
Caetano da Costa Alegre aqui nasceu em 1864, vivendo em sua terra até 1882, quando se muda para Portugal a fim de estudar medicina, falecendo naquele país em 1890. Sua obra, preservada pelo amigo e jornalista Cruz Magalhães, caiu no gosto popular da virada do século 19 ao 20, em função principalmente de seus temas românticos e, contraditoriamente, da abordagem de outros, chocantes e de vezo naturalista. Costa Alegre interessa muito e especialmente também pela tematização étnica: negro numa sociedade elitizada europeia, transbordou para seus versos uma percepção complexa da alteridade. Muitos críticos o julgam apenas um recalcado, que plasmou seu complexo de inferioridade em versos; outros, porém, ultrapassam essa leitura meramente psicológica e enxergam no autor uma espécie de farol que ilumina um momento de integração contraditória dos africanos no sistema cultural ocidental, algum tempo antes da onda negritudinista de Césaire e Senghor.
O livro contará com prefácio crítico de minha autoria, cujas ideias básicas serão brevemente expostas ao público no lançamento, que contará igualmente com minha colega de Instituto Superior Politécnico, a professora santomense Sónia Carvalho, autora de dissertação de mestrado sobre o autor, defendida na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Feche-se com “Visão”, poema dessa referencial obra da cultura de São Tomé e Príncipe:



Vi-te passar, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;
Ias de luto, doce, toutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra;
Depois, cativa de invisível laço,
(o teu encanto, a que ninguém resiste)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante.


Naduska Mário Palmeira

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Fundação Palmares e ABC/MRE - Edital

Prezados,

a Fundação Palmares, em conjunto com a ABC/MRE abriu o edital da Cooperação Sul-Sul "Conexão Brasil-África". Como todos sabem, moro em São Tomé e Príncipe e gostaria de encontrar uma instituição para fazer parceria com alguma instituição são-tomense e executar o projeto, que deverá ser apresentado até o dia 30 de novembro. Há várias linhas de atuação, e creio que possamos atuar em áreas como alimentação, inclusão social, preservação do patrimônio imaterial, e até mesmo em questões políticas e econômicas.

Eu pediria que, se houver algum interessado, escrevesse para mim, depois de ler o edital, indicando a área em que podemos atuar juntos. É imperdível esta chance que temos de "apertar" mais os laços entre nossos países.

Universidades também são bem-vindas, já que atuo aqui num Instituto Superior Politécnico que carece de recursos materiais e humanos para funcionar a 100%.

Desde já, agradeço a atenção de todos.

Um forte abraço desde as terras quentes do Equador!

www.palmares.gov.br/conexaobrasilafrica/edital/




O sucesso do cinema itinerante em São Tomé!

É para nos deleitarmos!

http://www.telanon.info/cultura/2012/11/01/11668/cine-itinerante-do-centro-cultural-do-brasil-animou-norte-de-sao-tome/


Parabéns para a Leila Quaresma, diretora do Centro Cultural Brasil - São Tomé e Príncipe, para todas as pessoas que se mobilizaram nesta ação, que foi um sucesso! Isso sim é amor a São Tomé!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A nossa sala, em novembro de 2012

A sala do Leitorado do Brasil no Instituto Superior Politécnico de São Tomé e Príncipe existe desde finais de 2010, muito embora o Leitorado esteja aqui desde setembro de 2009.

Contei com o apoio de amigos, do CCB-STP, das doações de nossos convidados que passaram por aqui e de uma mala de livros que trouxe para cá para ter as prateleiras interessantes e cheias! Na verdade, estão quase cheias, mas eu garanto que vamos precisar de mais prateleiras enquanto o leitorado existir nesta terra.

Dividir com alunos, professores, visitantes, curiosos... a preciosidade de cada livro doado é, para mim, um prazer enorme. Sendo assim, vejam o que temos por lá!

Tem cordel e poetas, tem!

Tem presente dos alunos, tem!

Tem estante esperando mais livro, tem!

Tem Raízes do Brasil também!

Livros de diversas áreas, tem sim!

Revistas, periódicos, autores de muitas línguas, tem!

E mais presente de Zenilda. Se tem!

E o ano do Nordeste também!!!

Muita divulgação!

Um espaço bem acolhedor, tem, tem!

E uma vista como a de ninguém...