Visita do Embaixador do Brasil ao ISP
No
dia 12 de março, às 10h, o Embaixador do Brasil em São Tomé, Senhor José
Carlos de Araújo Leitão, fez uma visita ao Instituto Superior Politécnico de
São Tomé e Príncipe, a fim de falar com o Presidente, Senhor Peregrino da Costa,
e com o seu vice, Senhor João Pontífice. Antes da chegada do Embaixador, o
Secretário Maurício do Carmo também fez questão de uma breve visita, o que
demonstra, mais uma vez, o respeito geral de nossa Embaixada pela instituição e
pelo Leitorado, e o interesse de permanecermos em contato com o meio acadêmico
são-tomense. Reservo-me a liberdade de fazer um relato de maneira informal e
agradável, tal como foi a essência de nosso encontro.
O
início da conversa foi na sala do Presidente do ISP, que, como já mencionei,
nos recebeu com muito apreço. Falou-se de cooperações, convênios em andamento e
convênios por se fazer. Falou-se da literatura de São Tomé (como não deveria
deixar de acontecer, sou uma estudante dessa literatura), de escritores nossos
amigos, como Albertino Bragança (citado por Russel Hamilton como um dos mais
importantes prosadores de São Tomé!), de Frederico Gustavo dos Anjos (também
citado pelo crítico norte-americano), e das inclassificáveis Alda do Espírito
Santo – por sua poesia de luta e protesto
– e Conceição Lima, por sua grandeza como artista e como pessoa. A conversa –
boa – demorou-se e não foi atropelada por compromissos ou marcada por
protocolos. Fluiu...
O
objetivo primeiro da visita era de o Sr. Embaixador conhecer a sala do
Leitorado Brasileiro, construída por mim, a leitora, ao longo de três anos, com o apoio do Centro Cultural Brasil-São Tomé
e Príncipe (que doou material, arquivos e dezenas de livros e revistas), de
professores que estiveram aqui no decorrer desses anos (Professora Simone Caputo Gomes - USP -, Professora Ana Lúcia
Souza – UFBA –, Professor Amarino Queiroz – UFRN –, Professor Eduardo de Assis
Duarte – UFMG), além dos cordelistas José Maria de Fortaleza e Tião Simpatia (a
quem devo a mini-biblioteca de cordéis que hoje tenho), do Presidente da
Academia Brasileira de Cordel, Sr. Gonçalo Ferreira da Silva, que doou livros
de sua autoria, de Marilene Pereira, diretora do Centro Cultural Brasil-Praia,
que doou vários livros quando de minha visita a Cabo Verde, de Gilvan Müller,
diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, a quem
agradeço pelos livrinhos de histórias da tradição oral dos países africanos de
língua portuguesa publicados pelo IILP, de Luandino Vieira, escritor angolano,
que enviou, gentilissimamente, os
livros de sua editora NÓSSOMOS, que publica escritores angolanos e agora se
expande para todo o vasto mundo da África de língua portuguesa (e outras
línguas), de Rogério Andrade Barbosa, escritor brasileiro, que doou livros de literatura
infanto-juvenil, cujas histórias foram recolhidas, por ele mesmo in praesentia, por todo o infindável e
riquíssimo universo do continente africano, além de mim mesma!, que doei meus
livros trazidos na mala quando me mudei para cá, no início dessa deliciosa
aventura em solo são-tomense.
As
Professoras Teresa Salgado e Carmen Tindó – UFRJ – também tiveram uma
participação, indireta (e talvez nem saibam ainda!), no crescimento do acervo,
pois elas me deram livros quando estivemos juntas no Brasil e em Lisboa, eu os
li e... doei para a salinha! Com o livrinho sobre literaturas africanas que a
escritora Edna Bueno – do Quintal da Língua Portuguesa, no Rio – me deu, também
fiz o mesmo! Se me esqueço de alguém, acuse quem ler! Não pretendo ser injusta!
O
Sr. Embaixador, como sói acontecer, foi impecável: destilou simpatia e
interesse pelos assuntos acadêmicos ligados ao ISP e ao Leitorado Brasileiro.
Os Srs. Peregrino da Costa e João Pontífice, na mesma medida, retribuíram com
uma agradável conversa e um passeio pelo prédio, mostrando-lhe as salas do
Instituto, falando de projetos concretos e sonhos para o futuro (que, espero,
bem próximo).
Fizemos
uma visita ao Núcleo de Língua Portuguesa, onde encontramos a Coordenadora do
Departamento de Línguas, que, sempre elegante com suas vestes africanas, marca
pessoal dela, também nos recebeu com simpatia.
Finalmente,
no nosso destino primeiro, o Leitorado Brasileiro, apreciamos o cuidado com que
a salinha foi montada (modéstia à parte nisso tudo), a riqueza dos títulos, os
cordéis expostos como são originalmente no nosso imenso Nordeste brasileiro,
jornais, revistas, enfim, ares do Brasil numa pequena sala do ISP.
Sei
que o trabalho foi, como se diz, de formiguinha. Aqui e ali, juntei os
presentes que recebi e os coloquei no espaço da minha utopia, um espaço que
serve para receber os alunos são-tomenses e inseri-los no nosso mundo da língua
brasileira, da literatura brasileira,
da cultura e da história do Brasil. Sei também que ninguém passou por lá sem
levar consigo algum impacto positivo: os alunos que foram orientados por mim
saíram com um gosto do Brasil, da nossa fala, das nossas letras, e com o desejo
de continuarem seus estudos em nossas terras (Lisinaite, Arlete, Eteldilaide,
Zenilda, Vargas, Agnalda, Mohamed, Alberto, Hortência, Carla Moreno... e outros
tantos nomes que vão em busca de livros, orientação para as suas monografias de
final de curso e materiais diversos são parte dessa construção).
Procurei
a maneira de me relacionar com todos da forma que marca a nossa “brasilidade”:
com respeito, afeto, proximidade, alegria, e muita disciplina. Afinal, nós,
brasileiros, somos um povo disciplinado! Ou não teríamos chegado onde estamos
hoje no cenário político e econômico mundial e de divulgação da nossa língua.
Marca
de uma relação de amizade com o ISP, a sala é de propriedade dos alunos, dos
professores efetivos, dos dirigentes e dos funcionários do Instituto. Marca de
nossa recíproca simpatia e interesses convergentes, a visita deu-nos um “banho”
de respeito, carinho e reafirmou o desejo de colaborações futuras.
O
legado material está sendo construído aos poucos e, estou certa, de que o
legado imaterial vai além do que nossos olhos podem ver. A demonstração de
afeto pelo Brasil, por parte dos meus alunos, e de carisma dos dirigentes do
Instituto marcam essa colaboração entre o Brasil e São Tomé e Príncipe que,
espero, ou esperamos, seja perene.
Mais
uma vez, eu agradeço ao Senhor Embaixador e aos Senhores Peregrino da Costa e
João Pontífice. Fomos embora felizes, e, ao fechar a porta da salinha, abrimos
a porta de nossas pátrias – interiores e geográficas – para mais, muito mais!