sábado, 26 de setembro de 2015

Do IILP

 

Diálogo África-Brasil: Juca Ferreira e Mia Couto

by O IILP





http://www.cultura.gov.br/documents/10883/1197198/entrevista-mia-couto.pdf/461cdb3b-a93c-4354-8941-be40fb5846b0

Ares de mudança...

Foi bastante curioso reler as últimas postagens deste blog. Quanta dificuldade em sair de ST&P e não menos de voltar pro Rio. Confesso que ri de mim mesma, sem troça, mas com uma certa graça de me despir tanto publicamente em um momento tão difícil. De alguma forma, tudo o que escrevi serviu pra elaborar a saída de lá e a nova entrada no novo Rio que encontrei. Resolvi não rasurar as falas intimistas - ao extremo - e dar continuidade de outra maneira que, claro, não deixará de ser subjetiva, mas tentará ser mais objetiva no que diz respeito às pesquisas que tenho feito. E aproveitarei o espaço para divulgar eventos que tenham a África como centro de discussão. Seguem os primeiros.

http://nepa.uespi.br/

E mais um:

http://plataforma9.com/congresso/ii-coloquio-internacional-de-historia-da-africa/


E sobre vozes femininas:

http://milbaufrpe.blogspot.com.br/2015/08/informacao-sobre-inscricao-no-evento.html





sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Felizes 5 anos do Leitorado no Brasil em São Tomé e Príncipe!

Lembranças!

https://www.youtube.com/watch?v=RKIeaenTiYE&feature=youtu.be


Um texto no fundo da gaveta


O primeiro leitorado do Brasil em São Tomé e Príncipe (STP) completará 4 anos em setembro de 2013. A instituição que o abriga é o Instituto Superior Politécnico (ISP), única IES pública no país. O ISP possui um Departamento de Línguas, dividido em núcleos de língua portuguesa, inglesa e francesa. O Núcleo de Língua Portuguesa (NLP), de que sou membro, conta com 12 professores por semestre letivo, incluídos os leitores do Brasil e Portugal. Entre os professores, há os que se especializaram em linguística e ensino do português como língua segunda, fruto, em geral, da cooperação educacional com universidades portuguesas. O leitorado do Instituto Camões se ocupa das disciplinas relacionadas à metodologia do ensino do português e introdução aos estudos da língua portuguesa; o brasileiro, da literatura brasileira e - em função da carência de professores formados na área – da literatura dos países africanos de língua portuguesa. Além das atividades docentes, há projetos culturais junto ao NLP e, no caso do Brasil, em parceria com o Centro Cultural Brasil-STP (CCB-STP).

É nesse contexto que inicio minha viagem - mais precisamente em setembro de 2009, quando comecei a aventura cultural e linguística por estas terras irmãs. Esfinge a ser desvendada, o ISP se oferecia ao diálogo linguístico, cultural e histórico com o Brasil, a difundir-se por alunos e professores – em cujo imaginário, até então, novelas televisivas e algumas canções de consumo e o futebol consistiam as únicas referências de nossa terra. Para alguns, ressalve-se, poucos textos literários eram de conhecimento, normalmente apresentados em aulas de literatura brasileira lecionadas com sotaques diversos dos nossos. A impressão de um acento meio mineiro, meio carioca causou nos alunos efeitos inesperados.

Tive a oportunidade de me reaproximar das literaturas africanas de língua portuguesa, que, irmanadas à brasileira, inundou salas de aula, o anfiteatro do ISP, o auditório do  CCB-STP - e a vida dos alunos, que passaram a se interessar pelos estudos literários com uma força nunca antes vista pelo NLP. Atribuo tal interesse à identificação dos são-tomenses com nossos escritores, majoritariamente os das décadas de 1950 em diante, que também foram os grandes influenciadores dos autores africanos com que trabalhei em sala de aula. Nesse sentido, sempre estabeleci paralelos entre a construção de nossa identidade e as lutas pela liberdade dos países africanos. Bebemos todos na fonte – de Gonçalves Dias a Guimarães Rosa, de Baltasar Lopes a Luandino Vieira, de Mia Couto a Conceição Lima – e, assim, nos apropriamos do discurso literário em português e da nossa língua portuguesa com afinco, desejo e afeto. Conceição Lima, o atual e universal grande nome da literatura são-tomense – ou africano, ou europeu e brasileiro, mereceu do leitorado e do CCB-STP, o reconhecimento devido que merece o autor da terra que recebe o leitor, que necessariamente se encanta com o até então desconhecido. Ganho pessoal – já que pretendo focar meu doutorado no estudo desta grande poetisa; ganho para o Brasil, que vai reconhecendo o grande talento de Conceição Lima, pouco a pouco se tornando figura próxima, indispensável ao diálogo cultural que mantemos com a África.

Nossa experiência cultural, por outro lado, consolidou-se aos poucos no imaginário dos alunos, amalgamada à cultura local. Exercitou a reinvenção identitária; acendeu criatividades; potencializou talentos; redimensionou o foco de interesses acadêmicos – pois o Brasil passou a ser visto e procurado como produtor de saberes novos, repletos de afinidades com STP. Passou-se a olhar nosso país como realidade possível e como interlocutor cultural fértil e acessível; a identificar as similaridades das variantes linguísticas brasileiras e são-tomenses. Fechou-se a aparente fenda que outrora se impunha: o mar imenso que nos separa tornou-se ponte cultural e linguística, em franco processo de desvendamento e irmanação.

O NLP (e o ISP, em nível de seu Conselho Científico) tem se empenhado em atualizar seu programa geral, a fim de promover efetiva integração entre os alunos e sua realidade sociocultural. Em 2009, os programas de literatura ainda não haviam sido discutidos e adequados aos interesses efetivos do alunado – ou às suas carências, trazidas dos níveis anteriores, em leitura e escrita, por exemplo. A maior preocupação tem sido aproximar os estudantes futuros professores (e os alunos que já lecionam nos ensinos básico e liceático) do mundo acadêmico, da produção de saber, o que poderá levar, finalmente, à preparação dos programas educacionais pelos próprios são-tomenses, ainda vinculada a projetos das escolas portuguesas. A mudança, gradual e contínua, pensada e estruturada pelo NLP, já causa efeitos positivos, como a inserção dos discentes em projetos teatrais e concursos de leitura e escrita, idealizados pela leitora de Portugal, também preocupada em criar um ambiente acadêmico democrático e solidário.

Quanto aos projetos levados a termo pelo leitorado do Brasil, tenho a preocupação de colocar os alunos em contato direto com a cultura brasileira, a fim de que ganhem uma referência, até então praticamente desconhecida, para suas articulações de pensamento. Tal ênfase justifica os programas que apresento no decorrer dos anos: conversas com intelectuais e artistas brasileiros, exibição, em sala de aula, de filmes e documentários que retratam a nossa tradição literária, musical, plástica. Ademais, reitero constantemente a importância fundamental da África para a construção da própria identidade brasileira, uma questão que ultrapassa os meros limites étnicos.

O CCB-STP tem sido fundamental para a efetivação dos projetos culturais que acontecem no ISP, pois, em articulação direta, leitorado brasileiro e embaixada discutem a relevância dos programas apresentados bem como suas identificações com STP. Vimos, no decorrer dos anos, trabalhando em franca parceria, devido, em certa medida, aos interesses do corpo diplomático em apoiar de forma mais ostensiva o trabalho do leitorado.

STP e Brasil continuam, dessa forma, um projeto a que chamo “identificador”, em que posso atuar, de maneira especial, como um ponto dinamizador. Estar vinculada ao mundo acadêmico como leitora no ISP me proporciona abrir diálogos adormecidos, cultivar identificações esquecidas, debater questões que considero fulcrais para o desenvolvimento da interlocução entre a academia e a política, entre STP e o continente africano, entre STP, Brasil e Portugal; enfim, entre todas as culturas unidas pela nossa língua comum. Creio na academia como espaço privilegiado e adequado para pensar nas relações que tenho comigo mesma e com a alteridade, na constante adequação de programas educacionais à realidade local, o que me faz pensar na minha posição como professora estrangeira, que se posta além da minha realidade cultural subjetiva. Trata-se, ao final e ao cabo, de uma posição política: apresento-me, em uma instituição de peso em STP, como intelectual brasileira, que se baseia em princípios democráticos e pluralistas, que levam à defesa do direito de expressão de todos.

É com muita gratidão que me despeço de STP, por ter podido trocar tantas e tamanhas experiências, por ter sido possível ver-me sob outro ângulo, ver e compreender o Brasil a partir de novo lugar de enunciação, e, finamente, por ter deixado, entre alguns alunos, o legado do desejo: desejo de conhecer mais o Brasil, espaço agora concreto de relações entre eles e nós, tal como STP foi para mim durante esses anos de permanência. Desvendemo-nos, assim, sempre.


Por mim.