domingo, 26 de agosto de 2012

Carta à Maria Odete Semedo, de Conceição Lima

Ao encontro da mesa estendida sob o frondoso micondó, vereis o resplandecente mar da Baía Ana de Chaves: micondó é o mesmo que kabasera, é o baobá, é o imbondeiro.

Querida Detinha:

Venho falar-te da doçura das mangas, as mãos das nossas mães, aromas: os que sobem dos esburacados tectos das cozinhas, a caminho das nuvens. Venho falar-te da justeza e da generosidade dos frutos.

Amo os sofisticados cheiros e sabores da Guiné. Volta e meia, ensaio o meu próprio caldo de mancarra, caril de amendoim para os moçambicanos, moamba de jinguba para os angolanos. Na sua sisudez, a mancarra não se apaga na versatilidade dos nomes, cumpre o destino de ser alimento.

Amo o chabéu que é vermelho, sem ser sangue, soufflé e dendém. Amo o aroma da cafriela, os pedaços de frango corados em manteiga, de volta ao molho de limão e fartas rodelas de cebola. A escalada faz escancarar portas e janelas, mas todos sabemos que é muito nham-nham o seu arroz. Kandja e badjiki estão entre as minhas imortais memórias de Bissau. E olha que não mencionei a carne corada, essa iguaria da quadra natalícia que a saudosa Ivete um dia me serviu com tanto carinho.

Porque amor com amor se paga, quero, amiga, que tu e todos os teus irmãos e irmãs visitem as minhas ilhas. São ricas e verdes, as ilhas; os ilhéus, quezilentos. As quezílias cegas, sabes bem, tolhem a acção e candrezam, atrofiam, os frutos. Tal como na tua amada Guiné, também os nossos frutos são bondosos e os aromas pacíficos. Diz um velho provérbio são-tomense, que a casa nunca é estreita para a família. Venham pois!

Ao encontro da mesa estendida sob o frondoso micondó, vereis o resplandecente mar da Baía Ana de Chaves: micondó é o mesmo que kabasera, é o baobá, é o imbondeiro. Se despida de vaidades, é benigna a função dos nomes.

Tu e todas as manas e manos provarão primeiro uma marca registada da ilha do Príncipe, o bôbô frito, banana madura frita.

Depois será o calu ou calulu, o blablá e o djógó, de confecção meticulosa, com muita hortaliça picada, óleo de palma e peixe, preferencialmente, que é o que o mar mais dá. São pratos cerimonais, testes de aptidão.

Em tempos não longínquos, a sua depreciação num banquete acarretava opróbrio perpétuo. O izaquente, doce ou de óleo de palma, requer igualmente perícia e demora. Não escapareis à pontaria da banana com peixe, o cozido, infalível como o sol, benévolo como a chuva.

A banana está para os são-tomenses como o arus para vós. Cozem-na. Assam-na. É frita e é guisada e seca ao sol. A fruta-pão é muito estimada, mas não tem o mesmo carisma.
O molho no fogo, meu prato predilecto, é um refogado de peixe seco e fumado, com makêkê e quiabo, tudo homogeneizado em óleo de palma. O meu pai gostava muito da azagôa, feijoada com carne fumada e nacos de mandioca.

O vinho de palma, de tão fresco e doce será verde, como a decisão da poetisa e seu povo. Haverá uma bandeja enfeitada com folhas: todos os frutos de África e bananas, felizes nas suas variações de tamanho, feitio, de nomes, de cores e sabores. As crianças trarão alfarrobas e tamarindos, um ramo de salambás, o mesmo que veludo na Guiné. Cuidado com o safú: se o trincares, ficarás nas ilhas.

À despedida, a mãe comporá um lento cestinho de mangas para ti. A primeira vez que vi uma manga da Guiné, maravilhei o tamanho daquele coração de gigante, amarelo-alaranjado e tão doce como as minúsculas mangas do meu país, que as nossas mangas mais doces são pequenas, quais corações de pomba. Ainda hoje, quando vejo uma manga enorme, do Brasil ou da Colômbia, é uma «manga da Guiné» que estou a ver. Essa manga é luminosa. É pacífica. E alimenta. Como o brindji de bagre que comeremos com a mão nua. Como os cantos do tchinchor e do ossobó, as únicas explosões que romperão o silêncio.

Sei que em Bissau, beberemos juntas, um dia, o fresco sumo da kabasera, sentadas em redor do fogo.

*Conceição Lima é poeta, natural de São Tomé e Príncipe, esta crônica foi publicada em África 21.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"OS CONDICIONALISMOS DA EVOLUÇÃO POLÍTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE NO PÓS INDEPENDÊNCIA"

O Laboratório de Estudos Africanos (LEÁFRICA) e o Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro convidam para mais uma sessão do EncontrÁfrica, com a palestra:
"OS CONDICIONALISMOS DA EVOLUÇÃO POLÍTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE NO PÓS INDEPENDÊNCIA"
com o Prof. Dr. Augusto Nascimento.
03 de setembro de 2012, segunda-feira
Horário: 18h
Instituto de História da UFRJ
Largo de São Francisco nº1 – Centro
Rio de Janeiro, RJ, sala 113
O autor sugere como leitura prévia dois textos de apoio:
1 - “São Tomé e Príncipe: a independência ou o parto do autoritarismo” in ROLLEMBERG, Denise e QUADRAT, Samantha Viz (orgs.), 2010, A construção social dos regimes autoritários. Legitimidade, consenso e consentimento no  século XX. África e Ásia, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, pp.157-205.
2 - “São Tomé e Príncipe na idade adulta: a governação e o descaso da rua” in Tempo do Mundo, vol. 2, nº3, Instituto de Pesquisa Económica Aplicada, Brasília, pp.45-73 (disponível na internet).
Augusto do Nascimento é licenciado em História, foi cooperante em São Tomé e Príncipe de 1981 a 1987. Regressado a Portugal, em 1992, obteve o grau de mestre e, em 2000, o de doutor em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa. É pesquisador auxiliar do Instituto de Investigação Científica Tropical, de Lisboa. Colabora com o Centro de Estudos Africanos do ISCTE, com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e com o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Publicou textos científicos sobre São Tomé e Príncipe e Cabo Verde em livros e em revistas nacionais e internacionais. Tem como principais áreas de interesse a história recente e a atualidade de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PEC-PG e Leitorado

PEC-PG

http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-noticias/5707-capes-divulga-novo-edital-do-pec-pg

www.capes.gov.org


LEITORADO:

http://www.capes.gov.br/editais/abertos/5630-programa-leitorado-