sábado, 27 de outubro de 2012

Rádio Jubilar: Literatura, Literatura nos PALOP, Literatura São-tomense - Perspectivas

Estivemos hoje, eu e o nosso Primeiro Secretário Maurício do Carmo, em uma deliciosa conversa com o Gil Vaz na Rádio Jubilar, no programa Estação Brasil - que vai ao ar todos os sábados, às 15h, na 91.9 FM.

Falamos da importância do estudo da literatura, do Brasil e da questão da superação da antiga cobrança de se ter ou se forçar - como já foi dito por aí - uma "literatura brasileira"; falamos dos escritores proeminentes dos PALOP, e falamos de São Tomé e Príncipe.

Parece-me consensual o fato de que é preciso olhar com mais carinho e critério para a literatura daqui. Estudá-la com rigor. Comprometer-se com ela de perto, no campo de batalha. Exigir das autoridades que são responsáveis pela educação a criação de uma livraria, já que supermercado, hoje, há por aqui. É o progresso, o progresso sem livros.

É preciso fazer com que os são-tomenses acreditem em si mesmos, acreditem que a literatura que eles têm é o seu tesouro, é a representação de sua pátria, é a escrita, em alguma medida, de sua história.

Mas eu lanço a minha eterna dúvida: qual a dificuldade de se fazer uma livraria em São Tomé? Um país de Caetano, de Marcelo, de Tomás, de Albertino, de Aíto, de Alda, de Maria Manuela, de Frederico, de Conceição... Como algumas almas irresponsáveis ousam dizer que "aqui não há literatura digna de se estudar ou de figurar nos manuais escolares"???

Ouso sugerir: abrir-se uma banca com livros, a que se possa chamar, decentemente, de livraria, não custa caro. Custoso é saber que a mentalidade de uma nação se constrói em conformidade com a desgovernança (doces, sorvetes, cervejas, inutilidades várias...). Ler é muito perigoso, talvez Rosa o dissesse.
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A entrevista correu bem, e seguem as famosas fotinhas de Gil e Dulce, os atores do Estação Brasil do dia 27 de outubro de 2012.




Além da maravilhosa presença do Gil Vaz, que é um grande jornalista, apareceram por lá os poetas Marcelo da Veiga, Francisco José Tenreiro e Caetano da Costa Alegre, para quem eu passo a voz agora, nos próximos versos:

"Irmãos: não dêem razão aos que nos mordem!
Independência não é nada disso...
Não é essa desordem
Que transforma em inferno um cortiço.

Independência não é
Vadiar, viver sem respeito,
Por tudo bater com o pé
E inchar, qual balão, o peito.

Independência é uma coisa bela
E santa, mas é preciso compreendê-la!
Não é para o qual-qual a independência!
Como a bonita mulher
Quem a ama e pretende e quer,
Há de ter consciência
De não seu um joão-ninguém qualquer;

De com a força dos seus braços
Sempre bonita trazê-la;
Adivinhar-lhe os pensamentos;
Ampará-la nos nossos passos
Contra a ira de todos os ventos
De cobiças defendê-la." (Independência, Marcelo da Veiga)

"Nasci naquela terra distante
num dia de batuque.

Daí esta pressa de viver!

Ombros balançando
lábios sangrando de prazer
eles dançavam
dançavam...

Daí este olhar pró sofrer!

Depois o descanso.
Olhos longe sem se saber porquê

Assim esta vontade de viver!" (In. Ilha de nome santo, Francisco José Tenreiro, 1942)

"Teu riso, teu olhar - ardente paraíso -
Com teu formoso leque escusas de ocultar,
Que ainda assim me abrasa o fogo desse riso,
Que ainda assim me queima a chama desse olhar." (No leque duma andaluza, Caetano da Costa Alegre)

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