A Embaixada
brasileira em São Tomé
lançará, em 9 de novembro próximo, edição de Versos, do poeta santomense Caetano da Costa Alegre.
Fruto da
cooperação cultural brasileira, o lançamento visa ao preenchimento de duas
lacunas: a primeira, mais objetiva, a ausência de edição lançada em solo
santomense; a outra, a divulgação aos estudantes e amantes da cultura de São
Tomé e Príncipe dessa obra fulcral, produzida pelo primeiro escritor da terra cuja
lembrança resiste à passagem do tempo. Nesse sentido, a Embaixada brasileira
destinará livros a liceus, institutos superiores de ensino e instituições
ligadas à educação e cultura.
Caetano da Costa
Alegre aqui nasceu em 1864, vivendo em sua terra até 1882, quando se muda para
Portugal a fim de estudar medicina, falecendo naquele país em 1890. Sua obra,
preservada pelo amigo e jornalista Cruz Magalhães, caiu no gosto popular da
virada do século 19 ao 20, em função principalmente de seus temas românticos e,
contraditoriamente, da abordagem de outros, chocantes e de vezo naturalista.
Costa Alegre interessa muito e especialmente também pela tematização étnica: negro
numa sociedade elitizada europeia, transbordou para seus versos uma percepção
complexa da alteridade. Muitos críticos o julgam apenas um recalcado, que
plasmou seu complexo de inferioridade em versos; outros, porém, ultrapassam
essa leitura meramente psicológica e enxergam no autor uma espécie de farol que
ilumina um momento de integração contraditória dos africanos no sistema
cultural ocidental, algum tempo antes da onda negritudinista de Césaire e Senghor.
O livro contará
com prefácio crítico de minha autoria, cujas ideias básicas serão brevemente
expostas ao público no lançamento, que contará igualmente com minha colega de
Instituto Superior Politécnico, a professora santomense Sónia Carvalho, autora
de dissertação de mestrado sobre o autor, defendida na Faculdade de Letras da
Universidade Clássica de Lisboa.
Feche-se com “Visão”,
poema dessa referencial obra da cultura de São Tomé e Príncipe:
Vi-te passar, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;
Ias de luto, doce, toutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra;
Depois, cativa de invisível laço,
(o teu encanto, a que ninguém resiste)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante.
Naduska Mário Palmeira
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