terça-feira, 6 de novembro de 2012

Em dia de "Versos"


A Embaixada brasileira em São Tomé lançará, em 9 de novembro próximo, edição de Versos, do poeta santomense Caetano da Costa Alegre.
Fruto da cooperação cultural brasileira, o lançamento visa ao preenchimento de duas lacunas: a primeira, mais objetiva, a ausência de edição lançada em solo santomense; a outra, a divulgação aos estudantes e amantes da cultura de São Tomé e Príncipe dessa obra fulcral, produzida pelo primeiro escritor da terra cuja lembrança resiste à passagem do tempo. Nesse sentido, a Embaixada brasileira destinará livros a liceus, institutos superiores de ensino e instituições ligadas à educação e cultura.
Caetano da Costa Alegre aqui nasceu em 1864, vivendo em sua terra até 1882, quando se muda para Portugal a fim de estudar medicina, falecendo naquele país em 1890. Sua obra, preservada pelo amigo e jornalista Cruz Magalhães, caiu no gosto popular da virada do século 19 ao 20, em função principalmente de seus temas românticos e, contraditoriamente, da abordagem de outros, chocantes e de vezo naturalista. Costa Alegre interessa muito e especialmente também pela tematização étnica: negro numa sociedade elitizada europeia, transbordou para seus versos uma percepção complexa da alteridade. Muitos críticos o julgam apenas um recalcado, que plasmou seu complexo de inferioridade em versos; outros, porém, ultrapassam essa leitura meramente psicológica e enxergam no autor uma espécie de farol que ilumina um momento de integração contraditória dos africanos no sistema cultural ocidental, algum tempo antes da onda negritudinista de Césaire e Senghor.
O livro contará com prefácio crítico de minha autoria, cujas ideias básicas serão brevemente expostas ao público no lançamento, que contará igualmente com minha colega de Instituto Superior Politécnico, a professora santomense Sónia Carvalho, autora de dissertação de mestrado sobre o autor, defendida na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Feche-se com “Visão”, poema dessa referencial obra da cultura de São Tomé e Príncipe:



Vi-te passar, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;
Ias de luto, doce, toutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra;
Depois, cativa de invisível laço,
(o teu encanto, a que ninguém resiste)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante.


Naduska Mário Palmeira

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