Ontem, recebi das
mãos da Ivone, minha amiga (mas, para a sociedade, Ivone Baptista, supervisora local
e consultora de bordado do Projeto de Artesanato que o Brasil desenvolve em parceria
com São Tomé e Príncipe), uma encomenda que há muito esperava:
era meu jogo americano – lindo! – com uns gatos feitos em corno (por Silvério
da Mota) e, a peça, de uma espécie de palha mais rígida (por Makeba). Não
resisti em fazer um comentário sobre a relevância desse Projeto no âmbito das
relações de amizade entre nossos países.
Não foi a Ivone que
fez os “individuais”, mas os seus alunos e novos instrutores de artesanato
são-tomenses que integram esse Projeto grandioso de cooperação da CPLP
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) entre o Brasil e São Tomé e
Príncipe (com a contrapartida do Ministério da Juventude e do Desporto de
ST&P).
Além de frequentar o
Instituto da Juventude, onde as oficinas são ministradas, ser amiga do
Projeto e conhecer as lojas (na CACAU e ao lado da STPAirways, Uê Tela), também sou
sua admiradora e propagadora; contudo, posso apenas dar uma opinião de quem
assiste ao seu sucesso e à sua beleza.
O Projeto, que
existe desde 2009, começou devagarzinho e foi crescendo a passos largos,
formando profissionais nas áreas de costura, marcenaria, bordado, escultura em
madeira, artesanato em corno e palha e design.
Ao longo desses anos, os produtos foram adquirindo os contornos da expressão
são-tomense nessas artes.
O que me deixa
feliz nos projetos que o Brasil desenvolve é exatamente isto: “nós” nos
envolvemos com a cultura de São Tomé e queremos que as expressões artísticas se
desenvolvam e cresçam com as marcas daqui. Não se trata, definitivamente, de
uma imposição de nossas concepções de
arte e artesanato. Antes, pelo contrário: incentiva-se a criatividade e a
fruição dos valores e modelos locais, levando os artistas e artesãos a
mostrarem a sua face naquilo que fazem – e em que são muito bons!
Muitos consultores
brasileiros do Projeto de Artesanato já passaram por esta terra e, sem dúvida,
levaram consigo as marcas próprias de cada aluno e de cada peça que criaram
nesta parceria incontestável. Não é novidade que Brasil e São Tomé se expressam
de maneiras diferentes, no entanto, a junção de ambas as manifestações
culturais nos e os enriquece, cultural e intelectualmente.
Dezenas de alunos
passaram pelas salas do Instituto da Juventude, na Quinta de Santo Antônio,
onde o projeto está fixado. Muitos artistas já têm, inclusive, a sua produção
individual.
Menciono um caso
apenas – e já bastante revelador – do
grande artista plástico e artesão são-tomense Tomé Coelho, meu amigo, de quem
comprei a maioria das peças que compõem hoje a minha casa: máscaras,
esculturas, pequeno objetos de arte que enfeitam a casa e que têm a marca de
São Tomé e Príncipe.
Sempre disse ao meu
amigo que as peças dele têm sua impressão pessoal inconfundível e hoje, como
líder de oficina e instrutor de marcenaria e escultura dentro do Projeto, ele
imprime a mesma/diversificada marca nas outras dezenas de alunos que passam por suas mãos.
Tomé Coelho tem uma oficina em que cria, trabalha, dá aulas para novos
escultores e artesãos na Quinta de Santo Antônio, e tem uma linda loja na CACAU
– digna de uma visita cuidadosa – chamada Atxi D’Obô.
Essa é apenas uma
prova de que o Projeto alimenta e incentiva a criatividade deste povo adorável
e impetuoso, que, aos poucos, vai conquistando o seu lugar na sociedade
são-tomense e no mundo.
Creio que a Arte
seja uma manifestação das mais importantes para (re)construção de uma
identidade local, enchendo nossos olhos – e nossas casas! – de beleza e de
cores de São Tomé e Príncipe. Desejo vida longa para o Projeto, que, após o
retorno para o Brasil dos consultores, andará com as próprias pernas, visto que
formou, com dignidade e respeito, os artesãos e artistas daqui para seguirem o
seu caminho.
Mais uma vez, vida
longa aos artesãos de São Tomé e Príncipe! E o meu profundo respeito pela
relação de amizade entre nossos países.
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